As bactérias do intestino nos mostram como os antibióticos causam infecções e criam superbactérias resistentes

A medicina moderna estaria perdida sem os antibióticos. Antes de 1928, o ano em que a penicilina foi descoberta pela primeira vez, pequenos cortes e feridas poderiam ser fatais. E se eles não fossem desenvolvidos, seria impossível realizar muitos dos procedimentos modernos de saúde ou cirurgias que vemos hoje. Os antibióticos são uma ferramenta inestimável para combater as infecções bacterianas, mas de acordo com um novo relatório de pesquisa, também causam devastadoras consequências para a saúde através da manipulação de bactérias. Publicado em Trends in Molecular Medicine, o relatório descreve três lições importantes:

 

A microbiota humana, um termo usado para descrever o grupo coletivo de microrganismos que vivem dentro de nossos corpos, inclui as bactérias intestinais benéficas que ajudam a estabilizar o nosso sistema imunológico. Essas bactérias inibem micróbios invasores, e sinalizam o sistema imune para a produção de uma resposta adequada na presença de uma infecção. No entanto, os antibióticos diminuem a população dessas bactérias benéficas.

 

“Os efeitos de tais perturbações são duradouros e podem ter várias consequências, incluindo o aumento da susceptibilidade a infecções, o potencial de desenvolver alergias, uma predisposição para desenvolver síndrome metabólica, e a diminuição da eficácia de terapias farmacológicas”, afirma o relatório.

 

Essas perturbações na microbiota humana podem ocorrer durante a infância sempre que um médico prescreve antibióticos, que podem limpar as bactérias benéficas do corpo durante períodos críticos do desenvolvimento imune. Isto coloca o bebê em risco para doenças comuns na infância, como asma e problemas de peso, todos os quais podem persistir até a idade adulta.

 

As “superbactérias”, ou bactérias resistentes aos antibióticos, têm sido uma preocupação de saúde crescente. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças, EUA, anualmente, há pelo menos dois milhões de pessoas infectadas com bactérias resistentes aos antibióticos, e pelo menos 23.000 dessas pessoas morrem. Se as superbactérias continuarem a evoluir em sua taxa atual, no ano de 2050 é estimado que 10 milhões de pessoas morram anualmente de doenças possivelmente curáveis. Atualmente, uma em cada sete infecções hospitalares é causada por superbactérias.

 

O irônico sobre a ascensão das superbactérias é o fato de que os antibióticos é que causam a resistência. Genes que tornam certas bactérias resistentes aos antibióticos podem ser encontrados naturalmente em todos os tipos de comunidades bacterianas. No entanto, os antibióticos matam populações bacterianas sem tais genes, deixando vivas somente as bactérias resistentes a eles, e permitindo-lhes a se multiplicar rapidamente, ocorrendo a transferência dos genes resistentes a outros grupos bacterianos. Eventualmente, este processo cria superbactérias resistentes a múltiplos fármacos.

 

“Uma pesquisa recente mostrou que o conjunto de genes resistentes a antibióticos dentro do microbioma de um indivíduo se expande ao longo do tempo, com a sua contínua exposição”, afirma o relatório. Com base neste conceito, os pesquisadores aconselham fortemente os médicos a evitar a prescrição de antibióticos desnecessários para eliminar a propagação de sua resistência.

 

“Novas estratégias estão sendo desenvolvidas para substituir ou complementar as terapias que usam antibióticos, através de técnicas mais seletivas que atinjam somente os patógenos, sem perturbar a microbiota e/ou com o restabelecimento de bactérias benéficas”, escreveram os autores.

 

Um tratamento complementar que o relatório cita é um método que promove as células imunes para produzirem fatores antimicrobianos, que tem demonstrado proteger camundongos contra infecções bacterianas. Outras alternativas incluem o uso de bacteriocinas, um tipo de proteína produzida por bactérias benéficas para matar agentes patogênicos, bem como para editar genes que poderiam ser usados para excluir os genes de superbactérias resistentes aos antibióticos.

 

Embora cada uma destas abordagens está atualmente em desenvolvimento clínico, elas fornecem uma nova esperança para limitar o uso de antibióticos.

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