Encontrei um cego… O que fazer?

Olá pessoal, tudo bem? É com imenso prazer que tentarei nesse novo artigo transmitir a vocês um pouco da minha experiência no trato com pessoas cegas.

Nada muito complexo, pois o fundamental é lembrar que todos somos humanos e isso sim é o primordial em qualquer tipo de relação, mas algumas dicas podem ser fundamentais para que sejam evitados constrangimentos, impasses e/ou situações problemáticas.

Assim, vamos pensar juntos: qual é o primeiro passo em qualquer tipo de contato pessoal? A Comunicação. Sim, vamos primeiro nos comunicar de alguma forma, seja em linguagem falada no caso de cegos, seja por meio de sinais no caso de surdos, enfim é muito importante que no primeiro contato se estabeleça comunicação entre as partes.

Falando dessa maneira parece simples, mas o que vemos em nosso dia a dia trabalhando com pessoas com deficiência visual são relatos que na maioria das vezes os “videntes” (pessoas que enxergam) não estabelecem comunicação verbal com o cego, dificultando ainda mais a situação.

Desse modo, como vocês já sabem, todo meu trabalho é voltado a pessoa com deficiência visual, portanto vamos esclarecer alguns mitos em relação a pessoa cega. (deixo claro aqui que devemos estender a todas as deficiências, que nenhuma é mais importante que a outra, só enfatizo a deficiência visual por ser meu campo de atuação e por ter mais experiência com esse tipo de deficiência).

Antes de falar sobre os mitos, é importante destacar que existe uma diferença entre cego Adquirido e Cego Congênito.

Consideramos Adquiridos, àqueles cegos que perderam a visão ao longo da vida, ou seja, já enxergaram por algum período; Cego Congênito, aquela pessoa que nasceu cego ou perdeu a visão nos primeiros anos de vida.

Importante salientar isso para que fique claro que podem existir diferenças motoras significativas já que o cego congênito teve todo seu desenvolvimento motor sem a visão, aprendeu e aprimorou suas habilidades e capacidades físicas sem esse sentido, o que fez com que esse ser consiga suprir a falta de visão durante os movimentos de forma mais natural; já um cego adquirido além do trauma de perder um dos sentidos, ainda precisará reaprender a movimentar-se sem visão, reorganizar as capacidades e habilidades motoras de outra perspectiva, reeducar o corpo e refazer seu repertório motor.

Além de toda essa questão física também é necessário diferenciá-los em relação a formação de conceitos do cotidiano como: formas geométricas, cores, noções de distancia, tamanho, orientação espacial, relação corpo x espaço, exemplificando como um cego congênito percebe um quarteirão sem nunca ter visto um, como ele imagina a cor vermelha ou azul sem nunca as terem visto, como ele percebe o tamanho de um prédio sem enxergar a sua altura ou a distancia do topo ao chão. Enfim, todas essas questões precisam ser destacadas para entendermos minimamente como uma pessoa que não tem o sentido da visão se organiza, se relaciona com o ambiente a sua volta, para que assim os videntes possam ajuda-los em qualquer situação, ou até mesmo no caso de profissionais que podem atender esse tipo de público saibam como lidar de forma mais adequada.

Outra diferença dentro da deficiência visual é a divisão em duas classes: Baixa Visão ou Cego Total, aqueles que não conseguem ver nada ou em alguns casos possuem apenas percepção luminosa são cegos Total ; enquanto que aqueles que ainda tem um resíduo visual, ou seja conseguem enxergar alguma coisa são classificados como Baixa Visão.

É importante ressaltar essa diferença pois ambos tem garantidos os direitos como pessoa com deficiência, mesmo que as dificuldade sejam diferentes. Pois, é comum pessoas com baixa visão não terem seus direitos respeitados por não se constatar sua deficiência de imediato.

Aqui vale lembrar que muitas vezes as dificuldades de uma pessoa com baixa visão podem ser maiores devido a confusão mental que isso pode acarretar, pois tem dias que a visão está “boa” e tem dias que não está. Para, você, leitor ter uma ideia de como é basta lembrar aquele período do final da tarde que não escureceu ainda mas também não está claro (chamado lusco fusco) e ficamos na duvida se acendemos ou não os faróis do carro.

Entendendo, basicamente, esses conceitos as relações pessoais devem ficar mais simples quando encontrarmos uma pessoa com deficiência visual, desse modo vamos derrubar alguns mitos:

 

 

  1. Cego não tem a audição mais aguçada, não há aumento da potência auditiva, o que acontece é que a pessoa com deficiência visual presta mais atenção nos estímulos auditivos, treina melhor os ouvidos para diferenciar sons e até mesmo para aprimorar audição seletiva, ou seja escutar aquilo que lhe convém para ajuda-lo na orientação e percepção do espaço.
  2. Cegueira nem sempre está associada a outras deficiências, portanto não é necessário na maioria dos casos falar pausadamente, ou até mesmo gritar para estabelecer uma conversa.
  3. Pessoas com deficiência não são mais ou menos especiais que as outras, portanto devem ser tratadas com mesmo respeito que qualquer outra pessoa.
  4. Pessoas com deficiência tem vontades, desejos, gostos, preferências e posicionamentos como qualquer outra pessoa. Aqui vale dizer que um cego deve saber que cor de roupa está vestindo, que tipo de comida está comendo, enfim ele merece ser perguntado sobre suas necessidades como qualquer outra pessoa.

 

Portanto, uma pessoa com deficiência visual, deve ser tratada como um ser humano presente no mundo, ou seja, com suas características pessoais preservadas e respeitadas, é muito comum serem transformados em “coitadinhos” ou então serem rebaixados ao ponto de não se importarem com suas preferências.

Abaixo, selecionamos algumas condutas e dicas importantes quando encontrar uma pessoa cega, mas insisto que o melhor caminho sempre será a comunicação, portanto antes de mais nada ao encontrar um cego se apresente e pergunte “Precisa de ajuda?”:

 

 

  1. Se andar com uma pessoa cega, deixe que ela segure seu braço.
  2. Se estiver com ela durante uma refeição, explique a posição dos alimentos no prato, pergunte se ela precisa de auxilio para cortar uma carne ou adoçar o café.
  3. Se for atrevessar uma rua com uma pessoa cega faça em linha reta para que não perca orientação
  4. Se um cego estiver sozinho, identifique-se ao se aproximar. Evite brincadeiras como: “adivinha quem é?”
  5. Se for ajudar um cego a sentar-se, coloque a mão dele sobre o braço ou encosto da cadeira e ele será capaz de sentar-se facilmente.
  6. Se perceber aspectos inadequados quanto a sua aparência, avise discretamente (roupas pelo avesso, meias trocadas, etc.).
  7. Se for orientar um cego quanto a direção seja o mais claro possível, diga Esquerda ou Direita. Não use termos como “Ali” , “lá”.
  8. Se for apresentar um cego a alguém faça com que ele fique de frente para o outro, evitando constragimentos como estender a mão na direção errada.
  9. Se for conversar com uma pessoa cega fale diretamente com ela e nunca por intermédio de alguém, nessa conversa não evite palavras como “ver”, “assistir” , “cego”.
  10. Quando se afastar da pessoa cega, Avise para que ela não fique falando sozinha.

 

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Finalizando, o mais importante disso tudo é tratar a pessoa com deficiência visual com Respeito, como qualquer outro ser humano. Evitando sentimentos exagerados de compaixão ou piedade, sem qualquer tipo de repulsa ou diferença.

Adaptações serão necessárias sem duvidas, mas o que vale é a comunicação e relação pessoal.

 

Obrigado caros amigos pela atenção, até o proximo artigo.

 

EDUARDO AZZINI

CREF: 071275-G/SP

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