Seu celular está arruinando sua postura – e seu humor
Há uma abundância de razões para colocar os nossos telefones celulares um pouco mais de lado e, não menos importante, o fato que verificá-los incessantemente nos leva para fora do momento presente e interrompe jantares por toda parte. Mas aqui está o que você pode não ter considerado: Os smartphones estão arruinando a nossa postura. E má postura não significa apenas um torcicolo. Eles podem estar nos prejudicando psicologicamente, de maneira insidiosa.
Se você está em um lugar público, olhe ao redor: Quantas pessoas estão se encolhendo sobre um telefone? A tecnologia está transformando a maneira como mantemos nossos corpos se contorcendo ao que o fisioterapeuta nova zelandês, Steve August, chama de iHunch (alusão ao iPhone com a palavra curvado em inglês). Também ouvi pessoas se referindo a tal postura de “pescoço de mensagens” e, no meu trabalho, às vezes me refiro como iPosture.
Uma cabeça pesa cerca de 4 a 5 quilos. Quando dobramos o pescoço 60 graus para a frente, como fazemos para usar nossos telefones, a tensão efetiva em nosso pescoço aumenta para 27 quilos. Há 30 anos, quando o Sr. August começou a tratar pacientes, ele diz que viu uma abundância de corcundas, onde a parte superior das costas havia se congelado em uma curva para a frente, em avós e bisavós. Agora ele diz que está vendo a mesma curvatura em adolescentes.
Quando estamos tristes, sentimos medo ou impotência, nós nos descuidamos e nos curvamos. Estudos têm demonstrado que as pessoas com depressão clínica adotam uma postura que estranhamente se assemelha ao iHunch. Um deles, publicado em 2010 no jornal oficial da Associação Brasileira de Psiquiatria, descobriu que pacientes deprimidos eram mais propensos a ficar com o pescoço dobrado para a frente, ombros desabados e braços em direção ao corpo.
A postura não apenas reflete nossos estados emocionais; ela também pode causá-los. Em um estudo publicado em Psicologia da Saúde, Shwetha Nair e colegas atribuíram a participantes não-deprimidos a se sentar com uma postura ereta ou largada e, em seguida, a responder a uma pergunta para uma entrevista de emprego simulada – um indutor de estresse experimental bem estabelecido – seguindo por uma série de questionários. Comparado com os participantes que se sentaram verticalmente, os que se sentaram de maneira largada, sem cuidado com a postura, relataram maior baixa estima e humor, e mais medo. A postura afetou até mesmo o conteúdo de suas respostas na entrevista: análises linguísticas revelaram que os de postura curvada eram muito mais negativos no que tinham a dizer. Os investigadores concluíram, “Se sentar na posição vertical pode ser uma estratégia comportamental simples para ajudar a construir a resistência ao estresse”.
Se sentar desleixadamente também pode afetar nossa memória: Em um estudo, publicado em Psicologia e Psicoterapia Clínica, de pessoas com depressão clínica, os participantes foram aleatoriamente designados para sentar-se como queriam e, em seguida, foram apresentados com uma lista de palavras positivas e negativas. Quando mais tarde foram convidados a recordar aquelas palavras, os que se sentaram de maneira largada/desleixada mostraram um viés de memória negativo (lembraram mais coisas ruins que boas), enquanto que os que se sentaram verticalmente não mostraram esse viés. E em um estudo de escolares japoneses de 2009, aqueles que foram treinados para sentar-se com postura ereta foram mais produtivos em tarefas de escrita.
De que outra forma a postura iHunch pode influenciar os nossos sentimentos e comportamentos? Eu e meu colega, Maarten W. Bos, em pesquisa preliminar, distribuímos aleatoriamente os participantes para interagirem durante 5 minutos com um dos quatro dispositivos eletrônicos disponíveis em variados tamanhos: um smartphone, um tablete, um computador portátil e um computador desktop. Então, esperamos para ver quanto tempo os participantes levavam para pedir para ir embora, após constatarem que o estudo havia sido concluído. Descobrimos que o tamanho do dispositivo significativamente afetava a confiança dos participantes em pedir permissão para saírem. A posição de desleixo, muito comumente usada aos telefones, os tornou menos assertivos – menos propensos a levantarem-se por si mesmos quando a situação exige isso.
Na verdade, parece haver uma relação linear entre o tamanho do seu dispositivo e a medida em que isso afeta você: quanto menor o dispositivo, mais você encolhe seu corpo para usá-lo, e quanto mais encolhida para dentro a sua postura, mais susceptível de se tornar submisso.
Ironicamente, enquanto muitos de nós passam horas todos os dias usando pequenos dispositivos móveis para aumentar a nossa produtividade e eficiência, a interação com esses objetos, mesmo que por curtos períodos de tempo, pode fazer exatamente o oposto, reduzindo a nossa assertividade e minando a produtividade.
Apesar de tudo isso, contamos com os nossos dispositivos móveis demais para desistir deles, e isto não vai mudar tão cedo. Felizmente, existem maneiras de combater o iHunch:
Mantenha sua cabeça erguida e ombros para trás ao olhar para o seu telefone, mesmo que isso signifique segurá-lo no nível dos olhos. Alongamentos e massagens nos 2 grupos musculares envolvidos no iHunch – aqueles entre as omoplatas e os localizados nas laterais ao longo do pescoço-, pode ajudar a restaurar a elasticidade.
Finalmente, a próxima vez que você pegar o seu telefone, lembre-se que ele induz ao desleixo, e que isto pode mudar seu humor, sua memória e até mesmo o seu comportamento. Sua postura física esculpe sua postura psicológica, e poderia ser a chave para um humor mais feliz e uma maior autoconfiança.