Olá pessoal, é com imenso prazer e orgulho que agora faço parte da equipe de colunistas do portal da Dra. Michi Ritz, antes de mais nada gostaria de agradecer a oportunidade e toda atenção que me foi dada pela equipe do portal, muito obrigado e espero que seja uma bela parceria profissional e que consiga transmitir aos leitores algo que contribua e enriqueça o conhecimento, a pesquisa e a melhora da qualidade de vida.
Bem, em meu primeiro artigo falei sobre Deficiência Visual tentando explica-la de forma mais simplificada a fim de traçar um caminho para que vocês entendam um pouco mais sobre o trabalho que a Educação Física pode fazer com esse grupo especial da população. Sem dúvida existem muitos benefícios que a atividade física pode trazer para uma pessoa com dificuldades visuais. Porém, para que esses ganhos sejam otimizados precisamos ficar atentos a uma característica fundamental no trato com pessoas com deficiência: Acessibilidade.
Todos temos direito a acessibilidade, ao ir e vir, com autonomia e independência para exercermos plenamente nossa cidadania, e essa ideia deveria ser mais difundida pelo país no intuito de garantir a todos a oportunidade de participar mais ativamente da vida em sociedade.
Desse modo, o termo acessibilidade segundo o dicionário Aurélio, pode ser entendido como aquilo que indica a qualidade de ser acessível e de facilidade de aproximação, no trato ou obtenção de algo (FERREIRA, 2008). E para os termos da [1]Lei Federal que vigora no Brasil e expresso na norma [2]NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas, acessibilidade é a “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos” (ABNT, 2004).
Agora que compreendemos a parte teórica vamos analisar a Acessibilidade na pratica e o que podemos fazer para que isso seja mais corriqueiro em nossas tarefas diárias e profissionais.
Bem, notem que em nenhuma das definições o termo ‘deficiência’ aparece, ou seja Acessibilidade deve ser empregada em todos os lugares para que todas as pessoas tenham acesso facilitado e não apenas pessoas com deficiência, para que assim uma criança consiga alcançar seu objetivo, um idoso consiga entrar e circular em um determinado ambiente, uma pessoa eventualmente com uma fratura na perna tenha um trajeto mais fácil entre cada pavimento, ou até mesmo alguém que esteja com os dois braços engessados ao mesmo tempo (isso é mais comum do que parece) possa abrir uma torneira ou a porta de entrada.
Pois bem, estes são alguns exemplos para clarear nossas ideias a respeito de acessibilidade e para contorná-los algumas mudanças são necessárias como: trocar maçanetas das portas por alavancas que podem ser abertas com movimento único (sem necessidade de segurar ou rodar); torneiras é o mesmo caso; substituir degraus ou escadas por rampas (mudanças arquitetônicas); manter objetos ao alcance de todos em alturas compatíveis com todas as idades e medidas (seguir padrão da Norma NBR9050); enfim temos muitas outras possibilidades que uma boa dose de criatividade e raciocínio lógico em cima das normas técnicas e o conhecimento de profissionais que lidam com isso podem garantir uma melhora na qualidade de nossos serviços e um ganho na construção de uma sociedade melhor.
Exemplo de Porta com Maçaneta Acessível
Exemplo de Torneira Acessível
Hoje, muito se tem falado em acessibilidade e alguns setores da sociedades se dizem Acessíveis e prontos para receber as pessoas com deficiência mas é preciso lembrar e novamente voltarmos a definição para saber que acessibilidade não é apenas para pessoas com deficiência e sim para todos, digo isso pois o que vemos no momento são algumas adaptações arquitetônicas para cadeirantes, rampas e portas largas, e piso tátil para cegos. Contudo, infelizmente, na maioria dos casos essas adaptações são feitas sem critério e fora dos padrões estabelecidos.
Encontramos rampas muito íngremes que não oferecem facilidade para cadeirantes de ir e vir sozinhos, pisos táteis que não levam a lugar nenhum ou que são instalados em meio ao mobiliário urbano como postes e outros, isso não é acessibilidade.
Rampa de Acesso Íngrime
Podemos observar exemplos de acessibilidade incompleta nas agências bancárias que em sua maioria exibem pisos táteis sem uma rota determinada, e ainda exibem outras fragilidades no acesso as informações como por exemplo a falta de informativos em Braille (Linguagem escrita para cegos), painéis de senha apenas em formato visual, entre outros pontos.
Extratos Bancários em Braille
Também é muito fácil encontrar pontos de ônibus “acessíveis” mas como ficam as ruas adjacentes? como o cadeirante ou a pessoa cega chegam até esse ponto acessível? como enfrentar calçadas esburacadas, com objetos, carros e outras barreiras que impedem o ir e vir de qualquer cidadão? Essas perguntas precisam ser respondidas para que consigamos melhorar a Acessibilidade e tornar mais fácil o acesso de todos.
Pois bem, tudo isso que falamos sobre ser acessível está no campo físico, arquitetônico mas existem também o campo das relações pessoais, de saber como lidar com pessoas que necessitam do acesso facilitado aos serviços prestados. Vejamos então como nós, profissionais da saúde fomos capacitados para lidar com tal situação.
Falemos sobre Educação Física, que hoje na maioria das grades curriculares apresenta uma ou duas disciplinas que falam sobre deficiência e em nosso modo de ver é insuficiente para contemplar todas as nuances necessárias para o desenvolvimento motor e a inserção de pessoas com deficiência na Educação Física.
Escolhendo um campo mais especifico, os profissionais que trabalham nas academias estão preparados para dar uma aula de musculação para um cego? As academias estão prontas para receber esse grupo de pessoas? Em sua grande maioria, a resposta é não! Enfim, será que eles não são potenciais clientes, será que não estamos perdendo alunos por falta de conhecimento ou oportunidade?
Por isso, algumas dicas básicas a seguir para que nossas aulas sejam mais acessíveis: em primeiro lugar é fundamental que se estabeleça uma comunicação simples e detalhada entre professor e aluno, isso quer dizer que devemos conversar e perguntar ao próprio aluno qual a melhor maneira para ele enfrentar determinada barreira, no caso de pessoas cegas é imprescindível que nós tenhamos uma linguagem fácil e minuciosa sobre o ambiente e sobre o exercício proposto.
Aqui é importante salientar que Cego não necessariamente é surdo por isso não precisamos gritar ou falar pausadamente. Devemos ser claros e objetivos e sempre estabelecer uma linguagem falada, sem utilização do gestual. Outro ponto importante é a questão da lateralidade, utilizar corretamente as direções, direita / esquerda, em frente, em cima, etc.
Enfim, é importante que o profissional conheça algumas características sobre a deficiência daquele aluno, mas o fundamental é que saiba trata-lo como ser humano, que suas diferenças sejam respeitadas e que haja naturalidade e criatividade na hora de preparar sua aula.
Concluindo nossa linha de pensamento deixamos algumas perguntas que talvez despertem em você, caro leitor, inquietações no intuito de fomentar o pensamento critico sobre que tipo de profissional deseja ser, como a qualidade do serviço que você presta as pessoas pode ser melhorado e por fim que tipo de sociedade desejamos estar? Espero que seja um pouco mais inclusivo, um pouco mais respeitoso e eu pouco melhor para todos. Pense Nisso, nos vemos em breve.
[1] Lei Federal de Acessibilidade Nº 10.098 – “Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências” (BRASIL, 2000).
[2] NBR 9050 – Norma técnica que regulamenta a Lei de Acessibilidade, onde consultamos parâmetros para normatização e padronização da Acessibilidade. Disponível gratuitamente na internet (http://www.svisao.com.br/downloads/normas.pdf)
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