O exercício pode reforçar a função do cérebro e as habilidades de pensamento das pessoas com demência, de acordo com um novo relatório. As descobertas do estudo sugerem que caminhar algumas vezes por semana pode alterar a trajetória da doença e melhorar o bem-estar físico das pessoas que desenvolvem uma forma comum de perda de memória relacionada à idade, que de outra forma, tem-se à disposição poucos tratamentos.
O estudo analisou o comprometimento cognitivo vascular, a segunda forma mais frequente de demência em todo o mundo, após a doença de Alzheimer. A condição surge quando os vasos sanguíneos se danificam e o sangue já não flui bem para o cérebro. Muitas vezes, é associada à hipertensão e doenças cardíacas.
Uma das características específicas da demência vascular em seus estágios iniciais, descobriram os pesquisadores, é que ela tende a fazer com que o cérebro funcione de forma menos eficiente. Nos estudos anteriores de varredura cerebral (exames de ressonância), as pessoas com diagnóstico de comprometimento cognitivo vascular geralmente apresentaram maior atividade neural em partes de seus cérebros envolvidos com a memória, tomada de decisão e atenção do que as pessoas sem a doença, indicando que seus cérebros tiveram que trabalhar mais durante um pensamento normal do que os cérebros mais saudáveis.
Mas enquanto uma grande atenção da pesquisa se dedica à doença de Alzheimer, temos menos pesquisas sobre a progressão e potenciais problemas na demência vascular. Algumas pesquisas indicaram que reduzir a pressão arterial diminui os sintomas da doença.
O exercício pode melhorar a pressão arterial e a saúde cardiovascular. E algumas pesquisas sugerem que caminhadas frequentes e rápidas podem melhorar a memória e as habilidades físicas das pessoas nos estágios iniciais da doença de Alzheimer. Mas, surpreendentemente, poucos estudos anteriores examinaram se o exercício também pode melhorar a função cerebral em pessoas com demência vascular.
Assim, para o novo estudo, publicado em The British Journal of Sports Medicine, pesquisadores da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e outras instituições decidiram analisar os efeitos da caminhada sobre esse tipo de demência.
Eles começaram recrutando 38 pessoas mais velhas, que receberam diagnósticos de uma forma leve e precoce de comprometimento cognitivo vascular. Nenhuma delas se exercitava na data. Todas concordaram em visitar o laboratório da universidade com frequência por seis meses.
Na primeira visita dos participantes ao laboratório, os cientistas mediram sua saúde geral e também habilidades de memória e pensamento.
Eles então examinaram o cérebro dos voluntários enquanto se concentravam em um teste computadorizado de atenção e habilidades de tomada de decisão que envolveu clicar rapidamente para indicar a direção que uma flecha deveria apontar. Esta varredura foi projetada para revelar a atividade neural e como diferentes partes do cérebro estavam funcionando durante a tarefa.
Finalmente, os cientistas atribuíram aleatoriamente seus voluntários para começar a caminhar ou, como grupo de controle, visitar o laboratório para sessões de educação semanais sobre nutrição e vida saudável.
O programa de caminhada era simples, consistindo em sessões supervisionadas de uma hora no laboratório, três vezes por semana. O ritmo de caminhada era rápido para que ocorresse o aumento da frequência cardíaca para cerca de 65% da capacidade máxima.
“Queríamos alguma intensidade” no exercício, diz Teresa Liu-Ambrose, diretora do Laboratório de Envelhecimento, Mobilidade e Neurociências Cognitivas da Universidade da Colúmbia Britânica e autora principal. A maioria dos caminhantes completou todas as sessões e “parecia estar aproveitando o exercício” no final dos seis meses, afirmou ela.
Nesse ponto, os voluntários de ambos os grupos repetiram os testes físicos e cognitivos de seis meses atrás, assim como a varredura cerebral. Os resultados mostraram que os dois grupos se diferenciaram em termos de funções de seus corpos e cérebros. Mais obviamente, os caminhantes apresentaram então pressões sanguíneas mais baixas do que os voluntários no grupo controle.
Mas mais impressionante, seus cérebros também estavam trabalhando de forma diferente. O cérebro dos caminhantes mostrou menos ativação em partes do cérebro necessárias para atenção e tomada de decisão rápida do que os cérebros daqueles no grupo de controle.
As diferenças eram sutis, diz a Dra. Liu-Ambrose, mas correlacionaram-se perfeitamente com as melhorias nos testes cognitivos. Quanto menos o cérebro de alguém tivesse que trabalhar para manter a atenção e tomar decisões rápidas, melhor a pessoa realizava nos testes de habilidades gerais de pensamento.
Na essência, os caminhantes apresentaram cérebros mais eficientes e melhores habilidades de pensamento do que o grupo de controle, disse ela. Claro, esse estudo foi de curto prazo, durando apenas seis meses, e, após o seu término, a maioria parou de se exercitar. A Dra. Liu-Ambrose e seus colegas esperam no futuro estudar se e com que rapidez os cérebros e os corpos de praticantes de exercício perdem ganhos ao se tornarem sedentários novamente. Eles também querem analisar diferentes “doses” de exercício e se os exercícios mais curtos ou mais fáceis afetariam a função cerebral em pessoas com demência vascular.
Obviamente, qualquer pessoa com memória ou outros problemas cognitivos deve consultar um médico antes de começar a se exercitar e, provavelmente, não deve se exercitar sozinho, alerta a Dra. Liu-Ambrose. Mas mesmo com tantas questões restantes, os resultados deste estudo são encorajadores. Eles mostram que, nos primeiros estados da demência vascular, “algo tão simples e acessível como caminhar pode fazer uma diferença significativa” para o funcionamento do cérebro.
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