Ioga para o cérebro

O esquecimento de nomes, rostos, datas ou eventos importantes são tidos como sinais de má memória. Este declínio lento em nossas habilidades de memória, pensamento e raciocínio nos deixa suscetíveis a doenças neurodegenerativas relacionadas com a idade, incluindo transtorno cognitivo leve e doença de Alzheimer. Mas, os pesquisadores sugerem que isso pode ser revertido. Um estudo recente, publicado em Journal of Alzheimer’s Disease, concluiu que a ioga aliada à meditação podem reduzir os problemas cognitivos e emocionais ligados à doença de Alzheimer e outras formas de demência, em comparação com exercícios de treinamento de memória como palavras cruzadas.

 

“O treinamento da memória foi comparável à ioga juntamente com a meditação, mas a ioga proporcionou um benefício mais amplo do que o treinamento da memória, porque ela também ajudou no humor, ansiedade e habilidades de enfrentamento”, relatou Helen Lavretsky, autora do estudo, professora residente do departamento de psiquiatria, e pesquisadora do Semel Institute for Neuroscience and Human Behavior, UCLA.

 

Os exercícios de “treinamento cerebral” foram criados para ajudar a evitar o declínio cognitivo relacionado com a idade. O programa Luminosity, por exemplo, é composto de mais de 40 jogos projetados para melhorar as habilidades cognitivas, incluindo a memória, atenção e resolução de problemas. Os membros são encorajados a jogar por 15 minutos, três a cinco vezes por semana. No entanto, este jogo ou outros programas de treinamento não foram ainda comprovados que funcionam pela Comissão Federal de Comércio americana. Ao contrário, eles não favorecem o antídoto real que protege a saúde cognitiva na velhice: um estilo de vida saudável e sociável.

 

Lavretsky e seus colegas procuraram comparar os efeitos da ioga que inclui meditação com exercícios de treinamento de memória na função cerebral em um pequeno grupo de 25 participantes com idade superior a 55 anos. Os participantes relataram problemas que incluíram a tendência de esquecer nomes, rostos ou compromissos, ou de guardarem objetos em lugares estranhos. Eles foram submetidos a testes de memória e escaneamento do cérebro no início e no final do estudo. Dois grupos se formaram: 11 participantes receberam uma hora por semana de treinamento da memória e 20 minutos por dia de realização de exercícios, como a associação verbal e visual para se lembrar de rostos, nomes e listas, e outras estratégias para melhorar a memória, baseadas em técnicas cientificamente comprovadas. Os outros 14 participantes receberam uma classe de uma hora, uma vez por semana, de Kundalini – técnica de ioga que coloca ênfase na consciência (mindfulness) ativando centros de energia em todo o corpo -, e praticaram meditação Kirtan Kriya (cantos, movimentos das mãos e visualização de luz) em casa por 20 minutos/dia.

 

De acordo com Lavretsky, a técnica Kirtan Kriya foi praticada por centenas de anos na Índia como uma forma de prevenir o declínio cognitivo em adultos mais velhos.

 

Os resultados revelaram que, após 12 semanas, ocorreram melhoras semelhantes entre os dois grupos nas habilidades de memória verbal, o que é útil para lembrar locais e caminhar ou dirigir. No entanto, o grupo de ioga-meditação se saiu melhor no quesito redução de sentimentos de depressão e ansiedade, e melhora de habilidades de enfrentamento e resistência ao estresse. Isto é importante uma vez que o comprometimento cognitivo pode ser uma condição emocionalmente difícil de gerir na velhice.

 

“Quando você tem perda de memória, você pode ficar muito preocupado com isso, podendo levar à depressão”, disse Lavretsky.

 

A melhora na memória coincidiu com mudanças na atividade cerebral. Os participantes em ambos os grupos tiveram mudanças em sua conectividade do cérebro, mas as mudanças entre o grupo ioga foram mais profundas. Através da técnica Kirtan Kriya, o exercício mindfulness reduziu o estresse e inflamação, melhorou o humor e capacidade de resistência, e aumentou a produção do fator de crescimento neurotrófico derivado do cérebro – uma proteína que estimula conexões entre os neurônios, melhorando a telomerase, ou seja, processo que recupera material genético.

 

Um estudo semelhante de 2013 concluiu que a meditação mindfulness levou a menos encolhimento no hipocampo – região do cérebro que faz parte do sistema límbico e está associada principalmente com a memória e a navegação espacial. Além disso, os pesquisadores descobriram que adultos mais velhos que meditavam possuíam maior conectividade cerebral do que aqueles que não meditavam.

 

Sarah Vaynerman, fundadora do Work from Om, uma empresa que gerencia ioga, meditação e estresse para o local de trabalho, e professora de ioga, afirma os benefícios de saúde mental da ioga: “Ela também regula o nervo vago, uma das partes mais importantes, mas menos conhecidas do nosso corpo que lida com os nossos humores e níveis de estresse”. Isto ocorre através da estimulação e aumento da atividade dos neurotransmissores que bloqueiam tensão.

 

Além disso, o exercício de respiração da ioga estimula o sistema nervoso parassimpático – o sistema de ‘descanso e digestão’ que retarda a frequência cardíaca e relaxa os músculos -, para reduzir a pressão arterial e diminuir a frequência cardíaca quando utilizado para intervir no estresse agudo e ansiedade, de acordo com Vaynerman. Isto é particularmente útil para pacientes mais idosos que podem sofrer de problemas emocionais devido às suas lutas mentais.

 

A equipe de pesquisa propõe que os médicos considerem as terapias alternativas como a ioga para tratar de problemas cognitivos e emocionais comuns que vêm com doenças neurodegenerativas: “Estamos convertendo a sabedoria histórica para o alto nível de evidência necessária para que os médicos a recomendem a seus pacientes”, disse Harris Eyre, principal autor do estudo, doutorando na Universidade de Adelaide, na Austrália.

 

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e, atualmente, a sexta maior causa de morte nos EUA. Ainda não há cura, mas a pesquisa, o passado e o presente sugerem que a ioga (aliada à meditação) pode desempenhar um papel vital na prevenção e melhorar os sintomas da doença.

 

“Se alguém está tentando melhorar a memória ou compensar o risco de desenvolver sua perda ou demência, uma prática regular de ioga e meditação pode ser uma solução simples, segura e de baixo custo para melhorar a aptidão do cérebro”, disse Lavretsky. Vinte minutos diários para recuperar o fôlego e meditar poderiam preservar ou manter a mente ágil para mais tarde na vida.

Dra. Ritz

Médica e atleta fisiculturista, realiza palestras por todo o Brasil, divulgando o envelhecimento saudável, a longevidade e a busca por uma vida mais plena e produtiva. Serve de exemplo e estímulo para os seus pacientes, que buscam em sua pessoa, uma fonte de conhecimento, inspiração e exemplo de vida.

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