Em um novo estudo, foi constatado que poluentes ambientais encontrados em peixes obstruem o sistema de defesa natural do corpo humano para expelir as toxinas prejudiciais. Equipe de pesquisa liderada por Scripps Institution of Oceanography, Universidade da California, San Diego, sugere que esta informação deve ser utilizada para avaliar melhor os riscos à saúde humana de comer frutos do mar contaminados. O estudo foi publicado na edição de 15 de abril da revista Science Advances.
Uma proteína encontrada em células de quase todas as plantas e animais, chamada de P-gp, atua como segurança ao expulsar os produtos químicos estranhos do corpo. P-gp é bem conhecida pela sua capacidade para transportar fármacos terapêuticos para fora das células cancerosas e, em alguns casos, tornando estas células resistentes a múltiplas drogas de uma só vez.
Para determinar a eficácia de P-gp em livrar células de poluentes industriais e agrícolas encontrados em frutos do mar – conhecidos coletivamente como poluentes orgânicos persistentes (POP) -, a equipe de pesquisa Scripps realizou uma análise bioquímica de proteínas P-gp de humanos e camundongos contra os POP. Os cientistas focaram em POP mais comumente encontrados no sangue e urina humanos, e também detectados nos tecidos musculares de atum albacora selvagem. Os poluentes incluídos são compostos do “legado” antigo, como o pesticida DDT, bem como mais recentes produtos químicos industriais, tais como retardadores de chama.
Trabalhando com pesquisadores da Skaggs School of Pharmacy and Pharmaceutical Science and School of Medicine, UC San Diego, os investigadores descobriram que todos os 10 poluentes interferiram com a capacidade da P-gp para proteger as células. O estudo também foi o primeiro a mostrar como um dos 10 poluentes, o PBDE-100, utilizado como um retardador de chama de espuma em estofados e plásticos, liga-se à proteína transportadora: de uma forma semelhante como os quimioterápicos, mas em vez de ser transportado para fora da célula, o POP inibe a capacidade da proteína para desempenhar a sua função de defesa.
“Nós mostramos que estes inibidores são encontrados nos peixes que comemos”, disse a pesquisadora Sascha Nicklisch, principal autora do estudo. “As suas concentrações na gordura de alguns atuns eram altas o suficiente para inibir a P-gp em nossos ensaios. Portanto, é importante considerar o potencial risco de ingestão destes poluentes.”
Os pesquisadores apontam que as populações mais vulneráveis são os recém-nascidos e larvas de peixes. Os primeiros são particularmente vulneráveis, uma vez que são expostos a altas concentrações de POP no leite materno e possuem baixas quantidades da protetora proteína P-gp. Já as larvas de peixes podem estar em maior risco desde que o acúmulo de poluentes pode abrandar o sistema de defesa do animal para combater outros poluentes marinhos, tais como hidrocarbonetos de petróleo encontrados em locais de derramamento de óleo.
“Quando comemos peixe contaminado, podemos estar reduzindo a eficácia deste sistema de defesa crítica em nossos corpos”, disse Amro Hamdoun, um professor associado na Divisão de Pesquisa de Biologia Marinha da Scripps, e autor sênior do estudo.
Os pesquisadores sugerem que os produtos químicos ambientais devem ser testados para determinar se impedem a eficácia do sistema natural do corpo de defesa de expulsar produtos químicos estranhos. A agência americana Food and Drug Administration recomenda atualmente testes semelhantes em produtos farmacêuticos.
“É perturbador descobrir que todos os poluentes ambientais persistentes testados interferiram com a capacidade da proteína para proteger as células”, disse Jacob James, diretor da Fundação Waitt, que financiou o estudo. “Ainda mais preocupante são os resultados que mostram que PBDE-100 se liga à proteína, em essência trancando e envenenando o ‘leão de chácara’ cujo trabalho é expulsar as toxinas. Podemos supor que alguns peixes carregam mais de uma toxina, sendo assim uma tripla ameaça, desde que resultados com misturas sugerem que várias toxinas agem como ‘multiplicadoras de força’ na degradação da habilidade celular de resposta. Como somos a única espécie que pode influenciar cadeias alimentares inteiras e habitats, devemos agir com mais responsabilidade na concepção e utilização de produtos químicos em nosso ambiente, bem como trabalhar as formas economicamente viáveis de medir e entender os impactos desses produtos em frutos do mar e em nós mesmos.”
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